Entre folhas ... O jardim dos nossos sonhos ...

É teu o jardim do pensamento,
O lugar onde apanho,
As mais lindas flores,
Para o meu alimento,
Procuro-te mulher astuta,
Doce,
Acorda.

Aventureiro,
Perco-me nas minhas noites,
Para seguir-te,
Chegas ao meu encontro,
Nua e esbelta,
Como se intui
No teu olhar,
Desconcertante,
Para exprimir
O prazer dos meus olhos.

Quando vou ao teu encontro,
Ou venhas ao meu encontro,
Trago-te flores,
Que vão cobrir por completo,
Os nossos corpos,
E nesse jardim
Perdermo-nos.

A ti,
Sonhadora dos meus beijos.

Beijos
J.

Entre folhas ... O tempo que me falta ...

Como gostava de roubar um pouco
De tempo ao teu tempo?

Sentir que não se evita,
Que as palavras perduram,
As almas continuam intactas,
O horizonte multicolor,
Olhando-o.

Perder o meu tempo
Conhecendo-te,
Como não alongar o dia?
Se a noite é tão curta,
Como não roubar um pouco
De tempo ao tempo?
Se com isso, mais penso.
Tenho de pedir
Mais tempo ao tempo.

Beijos
J.

Entre folhas ... Pensamentos…

Entre a fumaça,
E tratando de fugir da frontalidade
Encontro-me,
Às vezes com a mímica
E contadores de gramática,
A brincar ao injuntivo
E fugindo do elucidativo,
Desgraçadamente,
Aqui não se pode praticar o acto.

Não quisesse fazer uma tragédia
Que a bom saber se entende
Dividida em duas parte,
Que não enumero.

Não pretendo
Iniciar a discussão,
Não quero seguir a lógica,
Ainda apesar de dizerem
Que o decorum
Nunca esteja subjugado
Ao sublime.

Mas tenho uma guerra aberta
Entre o apolíneo e o dionisiaco
Querendo ser pragmático
Com a ideia do paradisíaco.

Entretido com as teorias
Das falácias,
Que a bom sabedor são quatro,
Não me guiem os meus instintos
A brincar com as gramáticas,
Colocando os acentos.

Em palavras velhas,
E distantes,
Nos meus ouvidos,
E sem saber que fumava,
Acabava por escrever,
O dito pensamento.

Beijos
J.

Entre folhas ... Reflexo meu ...

Olá reflexo meu:
Faz algum tempo que não falamos,
Eu sei.
Faz muito tempo que criaste essa absurda barreira
Estanque entre ti e mim.
Faz tanto, reflexo meu…

Convertemo-nos em sombras projectadas
Numa parede,
No melhor sinónimo do silêncio
E num constante nó na garganta
E no coração.

Sinto-o...
Apaixonei-me, reflexo meu.
E fi-lo,
Sem parar nas consequências que poderia
Nos trazer a nós, os dois.
Caí nos seus braços
E rendi-me ante a felicidade que me proporcionava
Estar com ela...
Pela primeira vez, reflexo meu,
Uma mulher faz-me esquecer que fui imensamente
Infeliz naquela escuridão e que tantas vezes
Sofri a vida impossível que levava.
Lembras-te, reflexo meu?
Chorávamos juntos,
Em silêncio juntos,
Olhávamo-nos juntos.
E assim foi até ao dia em que desapareci,
Quase para sempre.

Sei que partir de zero é um tanto ao quanto difícil,
Que nos tínhamos acostumado,
A nos olhar para compreender
O significado da vida atroz que levávamos...
Quero que saibas,
Reflexo meu,
Que não foi a minha intenção fazer danos em ti
Ainda que me doesse em te deixar sozinho
E fugir entre os braços do amor,
Mas continuo querendo-te,
E agora mais do que nunca,
Reflexo meu.

Sei que te deixei sozinho
Com a tua amargura,
Com a tua nostalgia da felicidade.
E sei também que,
Se me permites,
O regressar a teu lado
Deixará de ser uma quimera
Que choro desde algum tempo.

Quero-a,
A ela,
E quero-te a ti também,
Reflexo meu.
Quero estar com ela e quero
Estar contigo.
Quero voltar a compartilhar contigo a nossa baía,
Sentir juntos a brisa do mar
Nos nossos rostos
E olhar nos olhos para nos sentir acompanhados...
E é que te quero tanto,
Reflexo meu.

Escutas-me, reflexo meu?
Estás aí?


Beijos
J.

Entre folhas ... Penso em ti ...

Sei que pensas em mim porque o sinto,
Quando deixo voar o meu pensamento
É aí onde próximo dos meus sonhos
A ponto de tocar-te, que te encontro.

Sei que pensas em mim em todo o momento
Porque o ar que respiro está incompleto
O suspiro que inalo não me atinge,
Porque tu, o levas todo.

Sei que pensas em mim porque acordo
Pressentindo o calor morno dos teus beijos
O aroma embriagante do teu alento,
Percorre sem pudor todo o meu corpo.

Sei que em ti penso, em fogo ardente,
Nas tuas ardências,
Queimo-me,
Sendo cinzas sobre a tua carne.

Faminto, na tibieza da noite,
E sem o teu alento.

Beijos
J.

Entre folhas ... Origem ...

Arrasto uma íntima dor
Que só eu conheço,
As palavras tornam-se tensas
As noites convertem-se
Em colmeias de aço,
Banham-se os teus silêncios
Iludo o vento, que penetra,
Para além da liberdade
Dos caminhos abertos,
E tento consolar a minha pele,
Das tuas lembranças que nunca foram,
Gravadas na madeira,
Nem na pedra,
Nem em água e nem em fogo.

Viagens ficaram gravadas,
Desprotegidas,
No campo,
Na raiz iluminada
Das tuas pupilas,
Essas que ainda ressoam
Nalguma parte da minha vida.

Como os gritos apagados
Da libélula,
Mortos.
Na nostalgia
Da última nota,
E sem a sua origem.

Beijos
J.

Entre folhas ... Sonhos estranhos ...

Há noites que sem estar,
Estou adormecido
Aparecem-me na minha cama
Silhuetas,
Que estiveram no meu passado.

Apoderam-se de mim os sonhos
Pensava que dominava
O decorrido,
E as figuras desfiguradas,
Nos recordam,
O que estava no esquecimento.

Gasta-se-me a memória
Inevitavelmente,
Contigo,
E os nervos do meu corpo,
Revelam-se,
Comprazidos.

Sem ela e,
Caminhando pelas estradas da vida...

Beijos
J.

Entre folhas ... Tenha dó …

Que do meu sonho ficasse
A alegria ou tristeza reflectida no seu rosto,
Sem perder tempo em eufemismos,
Não se equivoque,
Não a quis ofender,
Mas olhe,
Repartir as minhas palavras
A pessoas que não concernem,
Nem às minhas noites,
Nem aos meus dias
Emudecem a voz,
Revelam-se os sentidos,
Brotando a mil por segundo,
A desculpa,
Dos ecos produzidos.

E ainda sabendo onde a encontraria
Não preciso ir ao seu encontro,
Nem gastar saliva para enfermar,
Aquilo que só por si,
É doentio.

Porque na minha consciência
Não têm ficado manchas,
E se equivoca,
Eu mal a conheço,
Nem trato de forçar os escrutínios,
As pombas voam,
As gaivotas emigram,
E podia,
Mas não quis,
Ficam encerrados nos meus sonhos,
Sem gastar palavras desnecessárias,
Fico apenas contemplando.


Beijos
J.

Entre folhas ... Do feminino sabor ...

Do feminino sabor não inalado
Do tremor de amor que ainda sinto,
De todas as carícias não recebidas,
Da fina pele não acariciada.

Ela que esconde o seu desejo,
Desnuda-se piscando o olho,
Dizendo que aceita estar comigo.

Dói-me essa beleza não possuída,
A imaginação dos seus fluidos,
Querer uma mulher de fogo,
Sem distâncias,
Sentindo-a como nunca a senti.

Cavalgas sobre mim
E comigo,
Os teus peitos ingrávidos e latentes,
Expões o teu belo pedaço,
À função exacta de minha luxúria.

E dói-me a alma,
Hoje mais que nunca
De te querer tanto,
Duas almas separadas
Pelo final da poesia,
Unidas pelo oco da carne,
Túnica humedecida na esperança.


Beijos
J.

Entre folhas ... Com a tua licença ...

Os teus olhos,
São diademas de prata que
Velam ociosos.

Os meus olhos na tua boca
São olhares de ouro,
Que roubo aos teus lábios.

Os teus lábios queimam
O sal da minha vida
Fazendo-me teu.

Os teus olhos,
São diademas
De ouro
Que sonham nos meus olhos,
Os teus olhos roubam
Os meus sonhos,
O meu desejo.

Com a tua licença.


Beijos
J.

Entre folhas ... Silhuetas ...

Caem-se-me as lembranças,
Agarradas à minha pele,
Olhas-me e sorris-me,
Tu sabes dos meus tormentos

Da dolorosa ausência suspiro,
De carícias extraviadas,
Um grito afogado,
Da ausência dolorosa vivo,

Enquanto,
Recolhes as minhas lembranças,
Abres-me os olhos,
E inconsciente beijo-te,

Não está,s

E eu queria estar
No corpóreo abismo doce
Do teu corpo,
Folha a folha
Folhear-te,
Como se desfolha
Um livro de poesia,

Imploro-te a outros Deuses,
Que querem confundir-me,
A tua silhueta seminua

Mas não,

A tua silhueta finca-se-me
Nas pupilas,
E enquanto caem-se-me as lembranças
Escrevo um poema que não é tal.

Tal é o estado
Que os meus olhos,
Contra o bronzeado do teu corpo,
Estalam,
Até te encontrar.

No mais profundo
Das minhas lembranças,
E volto com a tua ajuda a levantar-me,
Porque sem ti não poderia.

Quando te ouço,
Estás comigo,
Ainda que não queiras,
E me doem,
Os sonhos,
Tanto,
Tanto,
E mais,
Tanto que te recordo.

Beijos
J.

Entre folhas ... Querida amada ...

Querida amada,
Vais e vens,
Apareces e desapareces,
Enchendo-me de vazio,
Na ausência e na presença.
É curioso,
Mas quando não estás
É quando mais perto te tenho,
E quando te vejo,
Mais longínqua ficas.
Andei tão pouco
Que reencontrar-te pode doer,
Como a água gelada
No dia mais quente,
Do mês mais caloroso.
Mas mais dura é a ausência,
Quando noto que falta,
A nossa especiaria
Que sem ela o prato
Não é digno de ser servido.
Sem isso,
Sinto-me incompleto,
Como se me arrancasses
Esse instinto que me falta para ser eu,
A peça do puzzle que o completa,
O tijolo que aguenta os alicerces,
Para que não caiam.
Inundas a minha mente
De imagens que vivo como reais,
Que sinto como minhas,
Tão dentro que quase posso
Tocar-te,
Que quase posso sentir-te
A meu lado,
Ainda sabendo que isso jamais será possível.
Daria o que fosse para abraçar-te,
Para ter-te entre os meus braços,
O corpo que nunca será meu,
Daria o que fosse para ouvir-te,
Para sentir no meu ouvido
O gemido que nunca atravessará
A minha mente,
Daria o que fosse para te beijar,
Para conhecer o sabor
Da carne que nunca devorarei,
Daria o que fosse para te cheirar,
Para intuir o aroma da tua paixão
Aberta como uma flor,
A essência que jamais
Chegar-me-á.
Tive-te tantas vezes
Na minha cabeça
Que poderia recordar
Cada desejo,
Cada milímetro do teu corpo,
Sem jamais o ter visto.
Tantas vezes amei-te,
Que não poderia viver
Sem ouvir os gemidos
Que nunca ouvi.
Tantas vezes sonhei-te,
Que acordar e procurar-te
Entre os lençóis
É só o intermédio
Entre o sonho e o real.
Não te surpreendas,
Quando pergunto-te sobre mim,
Porque não me creio merecedor de te ter.
Não penses que o faço,
Para agradar esta e aquela,
Mas para me assegurar que tudo isto,
Não é um sonho,
Que tudo é real.
Sou um ser,
Que sinto a tua presença,
Respondo acalorado,
Entre cada carinho,
A cada suspiro,
A cada cor.
Tenho medo,
Medo de tocar-te,
De arranhar a tua pele
Com o rasto do meu desejo,
Medo de morder-te,
De que a minha saliva
Não possa te limpar,
Medo de que me rodeies
Com as tuas pernas pela cintura
E diluir-me no teu interior,
E não poder sair jamais
Desse cárcere do teu corpo.
Prefiro mil vezes
Continuar a desejar-te a ter-te,
Porque não quero enunciar-te.
Elejo não ter o teu corpo quente
Junto ao meu,
Continuar a ver o teu sorriso,
Verde e cristalino.
Elejo a tortura de ter-te
A um palmo de mim
E não poder alcançar-te,
Porque assim o meu sangue
Continuará ardendo
Sem se apagar,
Jamais.
Quiçá o tempo
Amaine a tempestade,
Quiçá tudo se tempere e suavize,
Não o sei,
Nem quero o saber.
Só quero viver-te,
Dia a dia,
Pensando que a cada dia
Pode ser o último,
Apesar de tudo,
Jamais acabará.
Pode ser que não estejamos,
Que não nos tenhamos,
Que não misturemos as nossas almas,
Rodando entre os lençóis,
Que não esteja dentro de ti,
Nem que devore a tua flor
Até a derreter nos meus lábios.
Pode ser que jamais
Finques os teus olhos nos meus
Enquanto te penetro,
Profunda e lentamente,
Tão dentro como quisesse
Trespassar a tua carne,
A tua alma.
Seguramente
Jamais molharás a minha pele
Com a doçura do teu orgasmo,
Nem grites no meu ouvido,
Que queres mais,
Que pare jamais,
Que continue,
Acariciando cada poro,
Que não deixe de entrar
E sair da tua flor.
É muito provável
Que não me derrame dentro de ti,
E que jamais conheça o tacto
Dos teus lábios
Rodeando o meu membro,
Sugando-o,
Devorando-o,
Arrancando gota a gota,
A minha alma.
Mas o que sempre terei,
Será a tua lembrança,
O brilho do teu sorriso
E o calor da tua alma,
Porque o que vive no coração
Jamais morre.

Beijos
J.