Entre folhas ... Uma ponte ...

Dizem tantas coisas,

Dizem que temos de atravessar

O rio por onde queiramos,

E por mais que procuremos

Só temos uma ponte,

A vida.


Nascemos a chorar,

Com o passar dos anos

Começamos a entender o porquê.


Acabamos mortos,

Outros continuam a chorar.

Dizem tantas coisas…


Beijos

J.

Entre folhas ... Correntes ...

O nosso instinto

Que marca a corrente

De um rumo

Que não é nosso…


Continuamos a beber

Da fonte do esquecimento,

Enquanto não estivermos despidos

De falsos pudores…


A norte das tuas nádegas,

E ao sul da minha corrente,

A esse ponto exacto

Onde o esquecimento

É impossível…


E os corpos unem-se,

Não há bússola

Que marque o norte.


Estando cheia,

Brilhas como a lua

Os teus poros são as estrelas,

E os meus olhos o céu.


O nosso instinto de amar

Que nos queima adentro,

De um rumo

Que não é o nosso.


Beijos

J.

Entre folhas ... Com Sentido ...

Após horas

Que parecem anos

Após pensar,

De caminhar tanto.

Deves-me um sorriso

Com sentido,

Sentindo,

Após tanto.


Devo-te um beijo

De uns lábios

Desesperados

De tanta espera,

Estão a matar-me.


Concreta e concisa

Agrada-me a tua presença

E o teu sorriso.


Beijos

J.

Entre folhas ... Formas obliquas ...

Porque sentimos

O cheiro dos nossos corpos

E nos arranham os sentidos

Do desejo,

Horas convertidas

Em esperas

Porque conhecemos bem

O que queremos…


E as palavras raciocinam

De químicas conjuntadas

Não há dias que passemos

Sem pensarmos,

Sem cheirarmos...


Oblíquos os sentimentos

Enredam-se

Nos nossos lençóis,

Porque há mais,

Uma conjunção de palavras

Olhares entrelaçados,

Olhando um horizonte

Ao alcance das nossas mãos…


Mãos que se deslizam

Entrecruzam-se obliquas,

Pelas nossas nádegas

Procurando o ponto exacto


Onde a realidade

Se confunde com o desejo.


Por quê?

Se conhecemos os danos

A terceiros,

E dói-nos que outras mãos

Percorram os nossos corpos.


Será porque quero-te...

Ainda que não te tenha.


Por quê?

Se desejamos o sabor

Dos nossos corpos.


Beijos

J.

Entre folhas ... Amor de Amantes ...

Amor de amantes,

Que gozam o proibido,

Aquele que é momentâneo,

Que vive de um suspiro…



Amor que desafia a vida

Por não ter o seu destino,

Amor que no silêncio estranha-te,

Em não estares a meu lado.

Amor que flui no sangue,

Que vibra em ver-te,

Sabe que os teus olhos

Não me enganam,

São os teus lábios que me mentem…



Amor que dilata ao presente,

Consome o futuro inerte,

Só vive porque te ama

E morre porque te sente...



Se a vida presenteia-me,

Por segundos os teus beijos,

Só um curto tempo do destino,

Bastasse um olhar cúmplice da alma,

Para unir os nossos corpos,

Neste furacão proibido…



Corpos que sem culpa se sentem livres,

Sem culpa sinto-te em mim,

Sentimento que nasce,

Quando estás a meu lado,

Que vive ao fundir-se comigo…



Perdoa-me por hoje,

Minha doce amante,

Vagueio neste mundo,

A mar aberto,

Longe da tua vida,

Longe dos teus beijos,

Só por te amar e não morrer no desejo…



Promete-me,

Minha fiel amante,

Que levar-me-ás em segredo,

Sentir-me-ás na tua pele,

No teu sangue,

Manter-me-ás vivo no teu corpo…



Só na distância tentarei esquecer-te,

Por não te ter por completo,

Por não aceitar compartilhar-te,

Por desejar-te a cada momento…



Mas não creias nesta mentira,

Que só finge num simples e curto tempo,

Porque tu sabes que levo-te,

No coração e alma,

Selado na minha vida,

Fundido no meu corpo.



Beijos

J.

Entre folhas ... O tempo ...

O tempo,

Esse que te acompanha,

E abandona-te

Nas rotinas mais absurdas,

Cultiva-te sem te dares conta,

Observa-te a cada instante

Está presente quando amas,

Quando morres,

Quando vives…

Amas,

Choras e ris,

Parece que se detém,

Mas,

Nos momentos difíceis

Engana-te

Esse...

Tão absurdo.

O tempo que te acompanha.


Beijos

J.

Entre folhas ... Lágrimas de mel ...

Já nada fica entre os dois,

Já nada fica numa flor aberta,

Rasuro o esquecimento,

Trespassados momentos,

Rompi as fotografias,

Devolvidas com preces

E melancolias,

Sem oferecer um obrigado,

Como deve ser,

De ti,

A ti,

Só com palavras…


Olhares enfrentados,

Que falam,

O silêncio enxagua,

Com lágrimas salgadas

Os beijos lançam-se,

Ao mar do esquecimento,

O próprio esquecimento,

Esquece-se dos sentidos,

Como deveria ser,

Uma despedida,

Sem antes ou depois,

Como deve ser uma despedida

Afastada do sentido do querer...


Só fica o sabor,

De uns beijos,

E essas lágrimas de mel

Impregnadas às capas da pele…


Beijos

J.

Entre folhas ... Nua de palavras ...

Com ânsias poderosas

De não fazer nada,

Semeando discórdia

Entre os meus sonhos…


Preso da saudade,

Derramada na minha almofada,

São as quatro da manhã

Ninguém saberá que te quis sempre,
Sem contar as horas

Que tu não me quiseste...


Fazem-se sonhos,

De uma realidade longínqua,

Acordo,

Sem noites de lua,

Preparo a minha caminhada…



Ninguém tem de saber

O tempo que te quis

E a hora exacta do teu esquecimento…



Esta é a minha caminhada,

Trémula,

Já é a minha voz,

Nua de palavras…

Beijos

J.

Entre folhas ... Poros da minha pele ...

Ofereço-te,
Os poros da minha pele
Adormecida,
As minhas noites de insónias,
As minhas guaridas,
O meu alento
Sem fronteiras...

Ofereço-te,
Essa carícia perdida,
Encosta as tuas mãos
Às minhas,
Descubramos o segredo,
Do amor desnudado,
E fundiremos os nossos lábios
Com o mel dos nossos corpos...

Ofereço-te,
As minhas noites de insónias
O meu leito,
E a voz dos meus escritos...

Beijos
J.

Entre folhas ... Trago-te o amor ...

Trago-te o amor,

Alojado nas minhas pupilas,

Quando quero

A toda a hora

E quando posso...


Trago-te o amor

Para que mates as saudades...


Despiu-me a carne,

As fissuras do momento

Da tua entreaberta,

Desejada,

Sem um único poro,

Aberto à

Luz plena do tudo...


Inundou-te,

Ao terminar,

Um sopro

De humidade já seca,

Recorria nas tuas nádegas...


Ainda era de noite

E seguia com a ressaca.


O amor foi longo

Num instante curto...


Beijos

J.

Entre folhas ... Amor desejado ...

Regarei a humidade dos teus olhos,
Encriptarei o resto do teu corpo,
Cheiro os teus sussurros,
E ao longe,
Incendeiam-me as fogueiras
De desejo,
Passaria horas
Vendo-te calada,
Hoje o tempo a favor,
Foi meu aliado,
Para escrever-te uns versos…

Agora que impávido deixaste-me
Com a chegada do teu amor,
Com a mesma ilusão,
Com que a vivo,
Colado aos silêncios dos teus lábios,
E aos silêncios arabescos dos teus olhos…

Porquê calar os sentimentos?
Agora...
Quanto tempo esperaste-te?
Quanto...
Olhando uma réstia de sol...

Beijos

J.

Entre folhas ... Amor platónico ...

Toda uma vida para te conhecer,
Duas vezes,
Bela é a vida
Três vezes,
Breve
Quatro vezes,
Intensa e dura,
Umas vezes adormeces,
Outra desvelas-te gratamente...

Esperas-me há muito tempo?
Nunca pensei conhecer-te,
Conjuro nas esquinas da noite
Vejo a figura do teu silêncio
Os presságios, galopam
Um peso gravita na sombra,
Nada muda,
Nada voa,
Nada é tão simples, tão fundo.
Nada é tão nada, e no entanto
Espreito-te.


Beijos
J.

Entre folhas ... Quer-me ...

Quer-me uma única vez,
Sem nomes nem poesias,
Quer-me sozinho
Desata as tuas fantasias,
Liberta o teu entrave
Aproxima-te a este dia…

Quer-me em silêncio,
Faremos novos versos
De muitos beijos e carícias...

Falar do passado,
Aproximar o presente
Fugindo dos medos
Enlaçando sentimentos...

Quer-me…

Beijos

J.

Entre folhas ... Fuga ...

A fuga da manhã
Sem ar,
Quase sem ar,
Respira,
O seu alento
Chega-me
Tão perto,
Que respiro
A mesma fuga
O mesmo ar...

Respira,
Deixando-me o seu alento
Entre os meus lábios
Há um suspiro comum
Uma próxima ausência,
Brote manancial de vida
A cada manhã
E chegam a ti
Os meus suspiros
Pela tua ausência calada.

Beijos
J.

Entre folhas ... Fluidos ...

Se não sou capaz
De ler o teu olhar
De saborear a tua palavra,
De amar-te em silêncio
Para fugir da minha nostalgia
E encerrar entre estes versos,
Valerá a pena acariciar esse teu corpo?

Aprendi o caminho
De acariciar corpos agrestes,
Trepei até ao cume dos montes,
Molhei-me com os fluidos dos seus lábios,
E fui aprendiz e sábio nesse instante,
E volto a acariciá-lo com prazer,
A cada vez que posso,
Pois não há caminho mais próximo,
Que o de minha língua no teu corpo…

Beijos
J.

Entre folhas ... Epitáfio ...

Se alguma vez,
Esquecer-me de viver,
E a minha memória,
Ficar na noite abandonada,
Bebe das minhas lembranças,
Eu sou a palavra
Que alimenta a alma.


Beijos
J.

Entre folhas ... Requeria ...

Requeria de ti,
A carícia no seu estado puro,
O beijo intuído,
Um acordar no teu ventre,
Um sonho na tua almofada,
Uma noite,
Talvez, umas quantas,
Ou uns quantos anos,
Não importa a hora...

Requeria de ti,
A palavra amor
Sussurrado entre os lábios,
O teu sexo húmido,
E o teu olhar transparente...

Olhando um mar de sensações
Que por longínquas, são tão próximas
Que a requeria,

Se puder ser,
Agora,

Neste preciso instante...

Faz tempo que deixou
De me importar a pureza
E deveria o saber,
Ou talvez o saiba.

Beijos
J.

Entre folhas ... Entre lençois ...

Quando o silêncio
Se apodera da noite,
A palavra se esconde
E surgem as dúvidas,
Aquelas, ou estas,
Mas as dúvidas,
De não saber o que escrever
Ou saber se exprime amor,
Para quem se escreve...

Então escrevo
Para o meu amor,
Nu de palavras
A alma acesa
O coração entre lençóis
E o corpo numa cela...


Beijos
J.

Entre folhas ... Só tu e eu ...

Só tu e eu sabemos o ignorado,
Com uma saudade crua e fria,
Ninguém suspeita,
O quanto tudo é bonito,
Nem quanto o amor esconde,
O meu gesto indiferente...

Só teu e eu sabemos,
Porque a minha boca mente,
Relatando a história de um fugaz império,
E tu mal me ouves,
E eu não te sorrio,
E ainda nos arde nos lábios
Um beijo recente…

Só teu e eu sabemos,
Que existe uma semente
Germinando na sombra deste vale vazio,
Porque a sua flor profunda não se vê,
Nem se sente...

E assim duas orlas,
O teu coração e o meu,
Ainda que separados,
Por um oceano sem fim,
Mas que no fundo do mar,
Unem-se secretamente.

Beijos
J.

Entre folhas ... A Visão ...

Em cada manhã,
O mesmo assombro,
Sempre novo,
A natural visão
Que é o teu corpo…

Curvas minuciosas,
De ritmo e desejo,
Que imperceptivelmente
Elevas ao mistério…

Desde os meus olhares
Vigio os teus propósitos,
Moves-te como um anjo
Anseias os meus desejos...

Na minha macia muralha
Aprisionado, vejo
O hábito singelo
Que tens no teu corpo…

Revolves a matéria
Em puro movimento,
A cada esboço insinuas
Um ritmo no espelho…

O repetido ar,
Que modelas com os teus gestos,
Cristalino,
Mas em mim é espesso…

Do teu pescoço nu,
Nasce um fundo venerado
Dos teus braços em alto,
O brilho do teu cabelo.

À alva, quando meço
A tua distância,
Não entendo,
O natural costume
Que é para ti o meu corpo.

Beijos

J.

Entre folhas ... Suave espuma ...

Sobre a espuma suave
Das ondas do mar,
Fico grávido e a desejar,
As tuas palavras que vou lendo…

Pé na areia descalço,
Pé ante pé vagueio,
Olho o mar,
Pesam-me as minhas lembranças…

Num grito tão nu
E tão absurdo
Como longínquo
Desse lado do atlântico,
Penso-te…

Sobre a suave espuma
Nos meu pés descalços,
As tuas palavras vão matando,
Os meus sentimentos.

Beijos
J.

Entre folhas ... Gotas de impossível ...

Embriaga e aromática,
Sorria pela fenda dos teus lábios,
O amor vagueava em torno...

Quase a minha mão posou na tua mão,
A tua cabeça no meu ombro,
Inquietou-se como um menino consentido
Sobre um encaixe redondo...

Rocei o dedo na tua cara,
Cálida, sedenta e ausente,
Pensei que estavas longe,
Tão distante,
Como num país remoto...


Que as tuas mãos jamais posar-se-iam
Sobre a pele do peregrino louco,
Que eras a minha gota do impossível
De um doce mar ignorado…

Então recolhido e solitário,
Da noite ao fundo,
Como um licor amargo que desborda,
Embriaguei-me de soluços,
Com gotas de impossível…

Beijos

J.