Entre folhas ... Luz ...

Eu não tenho sido a luz,
Tão só um reflexo
De ti em mim.

Terminou a junção
Do paladar dos teus lábios,
Repousa sobre a paixão,
Encosta-se e sente,
Há outro mundo exterior.

Batidos que mal murmuram,
Tinham como cor,
O sangue,
Um reflexo novo dar-te-á a vida.

Eu nunca tenho sido a luz,
Ainda que fiquem reflexos
De mim em ti.

As solidões ansiadas,
Em portos sentimentais,
E sem que sirva de precedente,
Tu reflectes-me,
Ausente.


Beijos

J.

Entre folhas ... Espiral imperativa ...

Descem as minhas mãos nuas
Por entre a tua pele adormecida,
Arrancando-te os sonhos
Roubando-te as paixões…

Entre a tua pele e a minha,
Ainda que seja por uma só vez,
A química compõe-se
De amor para as feridas,
De encontros para solidões,
De olhares partilhados.

Com um fio sem sentido,
Hoje a minha escrita ignora,
O tempo que te atravessa
E nos perdemos juntinhos,
Pelo mar da alegria.

E não nego,
Que o amor não exista
Digo que o amor,
Quando se faz permanente
Morre,
E brota de novo,
Numa tendência inovadora,
A pensar que as minhas mãos
Já não dormem,
E saboreiam o único espaço
Que fica entre nós,
Ou seja, nada
Por imperativo.

Nesse preciso momento
Deixo de ser eu,
E converto-me em ti
Passando pela tua
Espiral
Para voltar ao que sempre
Tenho sido,
Um apaixonado do amor
E da palavra,
E passam as noites,
Vendo transitar os dias,
Por imperativo próprio.
E repito,
Isto não é poesia...

Beijos

J.

Entre folhas ... Tentações à distância ...

Sempre te quis
Ainda na distância
Terás que me querer,
Porque sou a tua tentação
A que te dá asas
Porque és quase perfeita…

És a que sonha acordada
Aquela que eu sonho dormindo,
Como uma canção
Que nunca chega,
Através dessa distância
E esquecimento.

Trespassa-me o corpo,
Aquece-me,
Penetra-te,
E nomeia-te entre as sombras
Invade-te e não esgotes,
E ao mesmo tempo
Faz-te livre,
E és uma amiga,
Uma amante
Para sempre.

Aquece noite neste estado,
Nua,
Para o ser que se ama,
E aquecem os corpos,
O desejo.

E tu não estás
Para to contar,
Ainda que o saibas.

Beijos
J.

Entre folhas ... Sujeitos a este Portugal …

Atados a este mundo,
A uma sociedade infecciosa
Ruinosa,
Muitos crêem em Deus,
Processos pouco velozes,
Desprender destas correntes
Que nos chegam,
Ficamos ausentes,
Queimando-nos
Passam dias
Esperando
Soltar as asas ao vento
E unidos pôr fim,
A isso que chamamos vida
Em Portugal,
Para ser um
Que dois fomos um dia.

Constrói,
Ó poeta
Outra história,
Banhada em suor
De sonhos boreais
Para iludir e despertar,
As mentes ofuscadas...

Beijos
J.

Entre folhas ... Os aromas ...

O tempo é voltar a sentir o teu aroma.

Quis terminar com o meu passado,
Rejuvenescido,
Apartar do caminho ruidoso
Do amor e do destino,
Beber-me de um golo,
As razões de uma dúvida
Encerrar-me sem ajuda
No meu esconderijo
Derramar o sangue do teu corpo
Pelo ar.

Ar erotizado do teu sexo insano,
Cuspindo eufemismos pelo céu,
Quero desprender-me
Desse aroma infértil
Perder o olfacto da fome dos teus seios.

E não sei o porquê?
Se não estás,
Nada preciso
O leite que vi nascer
Dos teus seios paridos
Azedou no fim.

Para quê?
Se somos tantos...

Que de ti não fica nada,
Tão só letras revoltas
E esse cheiro de sexo
Impregnado
Que se alojou no meu,
Depois de tudo...

Tudo foi compartilhado
Ficaram os corações partidos
E esse aroma
Agridoce dos teus seios malparidos.

Do homem que tem sentido um casal,
E desfruta,
Falas de mim
E desconheço-me…


Vivo caminhando.

Beijos
J.

Entre folhas ... Sons do tempo ...

Se tivesse as palavras exactas
Para fugir em silêncio,
A concessão do som
Golpeando as sirenes,
As palavras sem gestos,
Os ecos dos poemas escritos…

Se tivesse as palavras escravas,
Amordaçadas pelo ruído,
Ou a frágil e constante
Dúvida do tempo.

Se tivesse as palavras exactas
Para fugir do silêncio,
Estaria contigo
Exclamando os gestos.

A concessão da dúvida
É um privilégio
Mas não digam nunca
Que calam os versos,
Ainda em silêncio se ouvem os sons,
Na fragilidade do tempo,
O pior é chegar a acostumar-se,
Longe de todas as coordenadas.

Beijos
J.

Entre folhas ... Lamentos ...

Lamentamos que podemos
Esquecer primeiro o sonho,
Sem nos ter acordado
Nem ter vivido o momento.

Lamentamos recordar
E viver das lembranças
Esquecemos o presente,
Confundimos os nossos sonhos.

Entre lamento e lamento
A vida vai-se atrevendo
A deixar entre lembranças,
O que temos vivido.

Amo o teu silêncio
A sua eterna existência
Latentes,
Os meus sentidos,
Preferem amar.


Beijos
J.

Entre folhas ... Se bem desse tempo ...

Se bem desse tempo
Interminável,
Onde escrever
Um poema,
Um conto,
O deleite de o ler,
O respirar
É mais que um belo sonho.
Abrir a alma,
Retirar o que se esconde
E o expor.
Vivo recordando...

Beijos
J.

Entre folhas ... Invasões ...

Há algo que me invade
Isto que se aproxima
Isto que me incita,
E invalida a minha noite.

Isto que sou matéria,
Sangue e água
Estas noites que são aberturas,
Rituais,
Movem-se os dedos
Ao invés das palavras.

E as palavras fluem
Em presente,
E digo presente
Para não saber de ninguém
Que não sejas tu.

Nem tu,
Nem penses que te pertenço…

Beijos

J.

Entre folhas ... Percorro as ruas ...

Tenho percorrido as ruas,
Quisesse a minha sombra
Com o teu passo alongar-se,
As minhas mãos pedem
A gritos,
Agarrar-te,
Tenho corrido as ruas
Buscando-te.

Buscando-te
Calcando a terra descalço,
Procurando
As tuas impressões
Pensando-te
Calcando as pedras
Que tu calcaste,
O mesmo caminho,
Em vidas diferentes…

Tenho percorrido as ruas,
Amando-te.

Beijos

J.

Entre folhas ... O último olhar ...

Gosto de recordar o teu último olhar,
O passo dos teus dias,
Pelas minhas estadias,
A frase escrita que deixaste
Em cima da almofada,
Olho o carmim de um beijo
Sobre aquela fotografia.

Era verão,
E ainda perdura no inverno,
Ainda que digam que as estações
Estão mudadas,
Algum poro da tua pele,
Que neste tempo todo
Tenha-me reclamado,
E não tenho sentido.

Agrada-me pensar
O que foste para mim,
E não penso,
No que não cheguei a ser,
Porque de tanto em tanto,
Uma melancólica nostalgia,
Apodera-se.

Vibra no meu corpo,
Qual violino rasgado pelo vento,
Apanha ar e respira o novo dia
Deixa para amanhã o sentimento
Quando eu não esteja,
Tu serás,
A cálida paisagem,
Que acompanha-me,
Gosto de te recordar,
Só.

De tanto em tanto.

Só o tempo é que sabe a saudade.

Beijos

J.

Entre folhas ... Enroscado ...

Caminha lento,
Pensando no seu passado
Remendando o presente
Traçando futuros,
Um grito no coração
E tudo volta ao seu estado.

Pode ser noite e dia,
Tormenta e calmia
Tristeza ou alegria
Mas sou a voz,
Da harmonia.

Posso ser também
O sol e a lua
A estrela que me guia
Ou o farol que te afasta,
Só tu conheces o teu caminho,
Para estares comigo,
Ainda que não venhas.

Mas na tua boca
As palavras
Firmes como desejas,
Saliva e sabores,
Reclamam-te.

Beijos

J.

Entre folhas ... Inalcançável ...

Não sei se vais ler, quiçá,
Tu que estás na minha cabeça
Como um eco surdo do meu pensamento,
Sei que estás nele,
Porque neste escrito
Leva a alma da minha ilusão,
Tu.

A tua inalcançável imagem,
É o céu que cobre o meu pensamento,
E os teus lábios acariciam-me
De cada vez que te recordo.

És o sol que aquece o meu pensamento
És a lua que resfria a minha alma.
És água,
És fogo.
És a luz que não alumia,
O meu caminho,
És o sonho
Que preciso esquecer,
És a estrela com maior fulgor no firmamento,
Mas ao estar tão longe,
Mas tão perto dos meus olhos,
Tenho que te esquecer.


Beijos
J.