Entre folhas ... Noites frágeis ...

Procura uma noite frágil,
para sentir-se madura
apoia os seus pés
sobre as minhas costas,
procura madrugadas completas,
que as suas mãos façam estremecer
a minha pele,
procura uns olhos,
onde depositar todo o amor
que me tem,
procura os meus olhos,
sabe que aí está o seu afecto.

Procura um abraço,
enredada no meu silêncio,
procura o que o tempo
lhe nega e rouba,
as suas próprias lágrimas
se procuram e se encontram
escorregando pela sua pele,
precisa de chorar.

Agarra-se à sua almofada,
fecha os olhos,
e encontra-me procurando-a,
procura uma noite de calidez e magia,
para acariciar-me os cabelos grisalhos
de tantas luas iluminadas,
enquanto eu a procuro,
desesperadamente,
a ela.

Tenho dissecado a sua fisionomia
enquanto ela tem encontrado a porta
da minha filosofia,
sempre tenho preferido o seu amor,
que a nenhum outro,
e por fim ela sabe,
que a minha escrita não rima,
mas o meu amor e a sua orla rimam-se.

Em suas mãos deixei o epitáfio
do meu corpo,
para quando precise.

Beijos
J.

Entre folhas ... Em DO menor o amor…

Errante as minhas palavras,
por baixo de mim, a tristeza
em mim mesmo,
encerrado,
ausente,
dor que queima, mata e morre,
renasce ao dia seguinte impertinente,
não se dá conta a morte que não temo,
ao devir negro dos meus dias,
a vida em si é constante morta permanente,
lenta e dolorosa para o que teme,
prematura para quem tudo o sente,
errante passo entre a vida e a morte
sem saber se amanhã estarei irradiante,
ou folha seca que o vento arrasta.

Tem passado o tempo de anestesias
de dizer o que sinto sem ouvir-me,
tenho passado por estações escuras
com passageiros que vão no mesmo destino,
e hoje já vês amada minha,
não sei se concordas o que penso com o que digo,
guarda esta nota;
pode ser que sirva de epitáfio.

Incinera-se o esquecimento pergunto-me,
e alguém lança os restos,
quem vive.
Onde fica o tempo do amor que nunca tem sido?
Onde fica o vivido?
Que queres que te diga hoje ao ouvido?
Demasiadas perguntas,
sem saber se estou dormindo,
sonhando,
nem se te lembras de todo o sentido.

Se da vida e da morte hoje caminho...

Epitáfio:

Fazer amor contigo
é compor música
sussurrada em DO menor,
aproxima o teu ouvido.

Para ti, que não te foste.

Beijos
J.

Entre folhas ... Cor cereja ...

Tenho uma mulher que não tem perdido
a menina que tem dentro de si,
sorri quando a olho,
alegra-se quando me vê,
chora quando não me tem,
são as suas asas a minha escrita,
as suas borboletas as minhas noites,
tem lábios da cor das cerejas,
pode dizer as coisas mais sublimes,
a sua sensualidade transborda-me,
improvisa os momentos mais doces,
presenteia-me os mais ternos,
os seus dedos conhecem bem,
o caminho das minhas costas,
sabe o que quero,
o que gosto, e eu conheço
bem o seu carinho.

Não me recordo de ter pensado
quanto tempo dura um amor,
e aí os meus pensamentos terminam,
ao lado dos seus sonhos,
sou como ela.

Beijos
J.

Entre folhas ... Ironia idiopática ...

Acolhe no dever dos meus dias,
o acaso que se avizinha,
pergunta-me sobre o amor,
todos os dias,
e silêncio é o que a alma grita.

Restauro a minha própria
e fina ironia,
e alheio a tudo o que me rodeia
e acabo por a empregar contra mim.

Quisesse uma lua contigo
em quarto crescente
duas noites de amável sintonia,
em minguante
três beijos intermináveis,
olhando as estrelas.

Olho para o céu e está nublado,
a sangue e fogo pelo teu amor
queimo-me, desespero,
jogo com a esperança,
sei que visitas este canto,
rancorosa apontas ao alvo
das minhas palavras,
e quando crês ter vencido
dás-te conta que tens perdido
todas as batalhas comigo,
se queres fazer amor
primeiro limpa a tua mente,
das impurezas acumuladas,
para que a tua consciência fique despida.

Inconcluso sempre baixo,
como o 23 de Janeiro
o Dia de S. João,
sim,
eu sei,
eu coloco os santos onde quero,
não tenho dono.

Preso da minha liberdade,
drogado das palavras
por prescrição amorosa,
sofro de SESP,
um diagnóstico idiopático.

Uma doença comum
hoje em dia,
já existia
no dia que te conheci,
mas não se contagia.

Se vestisse de negro
não seja que a minha dor,
arraste-te,
ao fundo da primeira declinação
do verbo morrer.

Tem uma imaginação manifesta,
e na ruína da sua palavra,
edifica a dor que nunca teve,
o meu pesadelo,
parece ser a sua sombra,
quando olho a minha sombra a renego,
o andar,
com o verbo amar.

Sou ex preso da minha própria guerra,
sou preso da minha alma,
e nestas mudanças,
ela é livre.

Beijos
J.

Entre folhas ... A minha vida sem ela …

Quiçá encontremos,
a realidade do nosso sentir
quando tenhamos esquecido
que fomos livres amando,
presos do tempo,
que compartilhamos sem destino
armazenando horas de espera,
para fazer juntos o mesmo percurso.

Foram tempos difíceis
a ausência não guardou
tudo o que sentíamos,
no final da ausência
chegou o encontro;
seja para bem a ausência
compartilhada.

E quiseram julgar-nos
pessoas como nós
de carne e osso,
adúlteros da própria vida,
trouxeram estrimónios,
e ninguém lhes deu crédito.

Tivemos tempo para falar da alma
e não o aproveitamos
preferimos…
jogar com os nossos nus corpos
ao limite de todos os sentidos.

Não se perderam as horas compartilhadas,
ficaram no baú das lembranças,
ficaram para sempre,
nos nossos sentidos,
quando a ausência de novo se aproximar,
chegarão os dias, que daremos crédito
a todo o vivido.

E ansiaremos que chegue a noite
para recordar todo o acontecido,
as minhas mãos sobre os teus ombros,
os teus braços nas minhas costas nuas,
será o tempo de sentir
os nossos próprios silêncios.

Na flor da noite,
a vida sem ela
é mais triste,
sem ti,
todos os espelhos
são escuros e,
a pena é mais obtusa,
o desejo vai roer-se com as unhas,
e os nossos corpos ficam
abandonados à sua mercê.

Beijos
J.

Entre folhas ... Depois de tanto ...

Após amar,
de sentir tanto,
após desejar em conjunto
sentir a vida,
após ter-nos
tão perto, após tudo,
e com motivos sinceros,
às vezes inexplicáveis,
e cada qual permanece
no lugar que lhe pertence.

Com desculpas,
do amor que não se goza,
Incompreendido,
E aquela dúvida de sempre,
e como sempre com tudo acaba.

Sem lógica de raciocínio.

Beijos
J.

Entre folhas ... Do seu poejo sou ereto talo ...

Do seu poejo sou,
a mente mesclada,
a noite dos seus desejos,
a perdição rendida
a cimeira das minhas fantasias,
o canto perdido,
a carne entusiasmada,
o centro da esquina.

Explosão de fumaça,
pele que te penetra
no alvo,
mão que te suga,
tormenta ardente,
fogo da tua morada mais brilhante,
aparência,
por baixo da cama estão as tuas calcinhas,
sedosas como a pele que me percorre,
as estrias trabalhadas,
do corpo que te chama,
humidade que abrasa.

Das tuas noites sou,
o amante apaixonado,
o silêncio que percorre o torso nu,
o que te provoca,
figura descarnada,
que te entra intempestivo, e sai a impulso
para voltar a entrar de novo,
desfrutar as tuas vontades
num fechar de olhos,
sentindo-te mamada,
dos teus lábios o beijo,
da tua mão a caricia
do teu peito a cúspide,
a aureola que beija,
os olhos que sangram,
o desejo louco,
descarnado,
rompo a cor natural da tua pele
em cem pedaços,
o lençol que te cobre,
a almofada recolhida,
são os teus olhos
parte onde se perde o meu olhar.

Dos meus dias
sou as tuas noites,
enches a baía
à procura da minha água embravecida.

Beijos
J.