Entre folhas ... A passos lentos pela cidade de Braga ...

A pele quase morta, reclama a morte,
o bater desborda o sentimento do tempo,
desborda a saliva em agasalhos,
à sua volta vê as suas lembranças,
longínquas,
perto uma mão amiga, não o deixa morrer
como quisesse estar em paz,
não tem tréguas na sua alma
para um silêncio merecido,
caminha a morte a passo lento,
tão lento,
que se vê morto,
estando vivo.

E não padece,
tanta palavra escutou em vão,
que nada lhe contém,
nem é do conteúdo
os que lhe rodeiam,
o seu destino estava escrito
num alvo,
equivocaram-se,
o medo perdeu-se no infinito da sua liturgia.

(pequena homenagem, a fininho, um mendigo de Braga que faleceu esta noite com o frio, tinha apenas 48 anos)


J.

Entre folhas ... Valham-me ...

Valha-me as forças
para suportar a dor e
a palavra para desafogar-me,
o coração para bater ao ritmo
da vida que me acompanha.

Valham-me as minhas lembranças íntimas
como muito próprias e intensas,
as que preciso,
para seguir o caminho da forma
que posso,
sem complexos,
sem preconceitos.

Valha-me o seu amor,
como alimento da minha alma,
o seu horizonte onde albergar
o meu olhar,
a sua calidez,
onde aceitamos mutuamente,
não falamos em silêncio.

Valha-me a minha consciência
antes de mais nada,
e ante todos,
para me sentir livre e sem fardos
de nada que pudesse fazer
contra a minha força e vontade.

Beijos

J.

Entre folhas ... Amor extremo ...

Tens de roçar a minha pele na madrugada,
quando sentires o alvorecer,
quando sentires o som do amor
entre as tuas mãos,
quando a lua aparecer
fazermos amor na alvorada.

Tens de assinar um contrato comigo,
onde eu seja o lençol ou o travesseiro
para que tu pises,
a almofada na tua cabeça,
o roçar leve do amor,
o teu último suspiro.

Já sabes do meu injusto
amor e tempo
à fidelidade do destino,
sabes da
noite que oramos
no templo onde nada se isenta.

Tens conhecido na tua garganta
o sal espesso
que do meu corpo desprende,
a trégua que não cessa ao ter-te,
o Deus que me bate,
 a palavra exata
que nomeio ao falar-te.

Da minha caridade
 tens conhecido um instante
inacabável,
onde tudo começa e termina
de ti já sabes amor
que os teus lábios reclamam-me,
a cada noite,
e entre sonhos falo-te,
tenho-te,
acaricio-te
tão perto do teu templo,
que me converto em espuma
 e penetro-te,
com a suavidade de uma pluma
que acordas molhada e com vontades,
tanto que no dia seguinte
pronuncias-me.

Invocas-me,
e não me venho.

Lástima de corpo castigado
em tanto,
pele,
dor e sentimento,
enquanto vai-se deslizando o tempo.

Conheço de ti o teu amor extremo,
e tu, o sabes.

Tens de roçar com os teus dedos
a comissura da minha alma
e na ponta de uma estrela
onde a deixam pendurada,
acalma-a.

Tens de abrir caminhos na pele
gargantas embebidas de sal
e converter em cristal
as madrugadas de mel.

Tens de compartilhar
as letras que formam o teu poema
para sentir o aroma
do jasmim do Inverno,
que floresce no escuro
do salão onde ela amor,
sai e roda...

Beijos

J.

Entre folhas ... Lícito ...

Chamo-me vida,
ao teu nome
chamo-te amor,
amor que dorme
nos meus sonhos,
chamo-te amor
e dava a vida para te ter
metida no segundeiro do relógio
que aprisiona,
a boneca da minha vida.

Lícito:
ter-te até em sonhos,
possuir-te
sem fazer danos
a quem rodeia a tua vida.

Chamo-te amor,
coloco a minha vida
nos teus contrastes,
quebras os meus pensamentos,
lícito escrever-te
amor em tom de claro sentimento,
enquanto a vida passa à altura
dos meus costumes,
o meu calçado resiste
à intempérie das minhas lágrimas,
dói a vértebra que faz girar
a minha cabeça
para o teu mundo,
lícito é o dizer sem que me escutem.

ilícito ter-te e não te abraçar
chega a hora,
que outros chegam
para beijar-te,
quando me sentes
tão próximo.

Lícito e explícito.

Beijos

J.

Entre folhas ... Desenhando futuros ...

Há dias que escrevo com a coragem
do coração pleno de pesares,
opacam-se os meus dias e renascem puros,
alimentando tudo aquilo que se espera,
o sentir mútuo dos sonhos semeados.

Pelo menos tenho vivido um tempo
reservando a minha vida ao compasso
da maturidade dos meus anos,
tenho molhado os meus ossos
algumas vezes
no equivoco do descoberto,
hoje
ontem,
talvez amanhã,
invoque ao amor puro,
talvez  fracasse
na tentativa.

Desenho o meu futuro
lambendo o meu orgulho,
e sem ser ninguém sou,
o que se pronuncia amor,
resmungando liberdade,
fábulas mal contadas
depositadas num querer mais,
desejo amanheceres
que nunca chegam.

No letargo dos meus pensamentos
como se fosses o centro,
mesmo de tudo,
o sendo,
passeias-te pela minha pele,
desenhas o meu coração
da cor âmbar quando ele está cinza,
és o pincel da minha manhã,
 o teu sorriso devolve-me a vida,
essa que me pica insistente
na solidão que dança sobre a minha cama.

Há dias que escrevo com a coragem
do coração ao descoberto,
a alma humedecida em penas,
fecho os olhos e imagino,
o amor em plena sementeira,
estendo os meus braços
e encontro-te
no centro  das minhas lágrimas,
amadurecendo sentimentos
queimando-me o peito
difíceis de explicar,
por intangíveis,
picotei os meus ânimos,
sinto falta dos caminhos,
 pensando
que a vida foi ontem,
sendo hoje
o futuro que me inspira acomodado.

Beijos

J.

Entre folhas ...Amantes sem pretextos ...

Em ti sinto os meus pensamentos
no eco do teu nome, golpeio-te
com a macieza do vento.

Em ti pousa o eco da minha voz
a cavalgadura que almejo
com a fúria da tormenta.

Se queres ama-me sem pretextos
enche estes espaços frios,
com o ardor dos teus lábios quentes.

Deixa-me se não queres a humidade do meu sexo
eu venero-te de coração e sem mais razão,
todos os pensamentos que por ti sinto.

Mostra-me o teu rosto mais ambíguo
a solidão das tuas dúvidas,
semeia-me o corpo de beijos,
preciso morrer  uma infinidade de vezes,
renascer em ti num campo de açucenas,
os meus suspiros só têm o caminho do teu corpo
hoje, as minhas vértebras vencidas reclamam-te,
e tu estás a semear dúvidas
no jardim do ausente.

Abraça-me,
acalma-a,
de ter-te no silencio,
a minha agudeza transforma-me em lobo faminto
ainda que não estejas,
sempre te tenho.

E tu o sabes,
ainda que me negues.

Beijos

J.

Entre folhas ... Para esquecer-me ...

Para que me esqueças sem rancor,
não ódio,
com os restos naturais da indiferença,
tens de encher a tua garganta
com as letras do meu nome,
com todos os tempos do verbo amar,
sem esquecer as notas escritas
nas noites cegas,
provar a humidade da minha pele
com os olhos fechados.

Para que me esqueças,
tens de sentir o sabor,
dos beijos calados,
em silêncio feito versos,
ardentes como fogo
sedentos como o deserto,
tantos que não cabem nas noites
de uma vida ,
como para deixar de me amar sem indiferença,
já nos falta o tempo
para salpicar as vontades
com tanto amor de um dogma
com tanto extrato escondido,
temos que nos dedicar sem rendições
uma batalha de desejos famintos,
libertar os erres enquanto nos beijamos,
libertar os esses enquanto fornicamos,
descodificar a inquietude dos verbos,
apaziguar o tesão.

Para que me esqueças com tanto por fazer,
enquanto vivemos quase um impossível,
melhor dito, enquanto eu viva,
pois as letras do teu nome,
gravadas no meu epitélio
serviram algum dia para meu epitáfio.

Com tanto por fazer será impossível
esquecer-te,
também não me proponho,
posso manter sempre as letras
de um amor a salvo de um naufrágio,
enquanto perdure em mim a sensatez,
da loucura dos meus desejos proibidos.
amar-te.

Beijos

J.

Entre folhas ... Pele oculta ...

Não prescindo da tua pele oculta
dos lábios que me beijam,
ao chegar a noite escura iluminas-me,
é o teu corpo de seda e jasmim
aos olhos que reclamam e observam-te.

Não prescindo da tua pele vibrante
das tuas mãos percorrendo as minhas costas,
é o teu corpo de seda e jasmim
a cada noite que te observo intimamente.

Não prescindo do amor dos teus lábios,
nascidos da sabedoria,
quando nomeias o amor,
amar é para ti um princípio
sem fim,
está gravado,
a lua dorme,
que não seja o firmamento testemunha
das noites que passamos juntos,
não prescindo uma noite sem ti.

Desidratados tremem
Os nossos corpos nus
nestes volumes de amor,
que nos percorrem de madrugada,
a lua entre os nossos beijos,
os corpos mexem-se no firmamento,
e tu não estás para te contar...

Beijos

J.

Entre folhas ... Nada é igual ...

Nada é igual quando se decompõe
da nossa imaginação um corpo,
um desejo,
uma acendalha,
uma esperança,
nada é igual quando nos
decompõem a nossa alma.

Por um amor irrecuperável
ou por um amor errante...

Seguimos os caminhos
espreitando sempre a esquina
de quem nos possa unir a alma,
ou sentir o amanhecer  juntos,
com a lua entre as pernas,
sentindo o calor que emanam
as estrelas do teu corpo.

Nada é igual
quando com o coração
ama-se.

Beijos


J.

Entre folhas ... Na noite ...

A obscuridade da
noite é onde vive o meu sentir.
a noite desprega-se do seu leito
do calor dos lençóis
abraça o meu adentro,
abre as portas do escondido
e instantaneamente
sinto-te viver em mim,
sinto viver em ti.

A escuridão da noite abraça-me
enquanto os meus sentidos sonham
com a claridade dos teus dias.

não há noite que não pense em ti
que nos meus sonhos não te atinja.

Beijos

J.

Entre folhas ... Vidas contraditórias...


Banho-me de glória alheia
sinto uma vez mais, os sonhos,
acompanhando-me onde não quero,
o guerreiro que mora em mim,
aguarda a noite nova entre quimeras,
libertar o espírito de uma vez,
ai se quisesse,
mas não está marcado ainda o tempo,
da minha existência ...
e dói-me.

Ausentes refletimo-nos,
encontrando nas manhãs
que faríamos nossas.
Ficam eternas as manhãs,
sem ti.

Por amor, teu amor e o meu silêncio,
por noites em sonho juntos
por versos, luas e estrelas,
por amor todo te entrego.

Não há vida sem emoções,
mas também as emoções
têm de ser as condutoras
das nossas vidas exteriores.
Contraditórias.

De emoções vive a
sua vida,
vive, recalculando.
E dói-me até nas sombras,
dos nossos umbigos,
de caminhar tanto...

Beijos
J.

Entre folhas ... Pouca vontade


Quase sem vontade,
corpo evitando a queda,
passeias pela minha pele,
só observas,
hoje os teus dedos desenham curvas.

As pontas dos teus dedos
assumem no meu acordar
um nascer pleno de lembranças
de uma tarde de Inverno.

Pensamento escondido
gerador de belas lembranças
assumem no meu acordar
corações púrpuras,
és tu,
a saliva que alimenta
os meus lábios sedentos,
a que brinca com as virgulas
das *conjunções copulativas
do verbo que nos envolve.

Desaparece a solidão
quando na noite apareces
discreta,
acordas-me e beijas-me
desaparecendo.

De alguma tormenta refletida
reflete-me,
e espanta-me
saber que estendo os braços
sem encontrar-te por perto.

Uma vírgula da minha vida é suficiente
quando penso em ti
e estás ao meu alcance,
sendo o futuro presente
dos pontos suspensos,
que nos envolvem distantes.

Beijos
J.

Entre folhas ... Cadências corruptas ...


Não conheço outro idioma
que aquele pronunciado pelos seus olhos,
do verbo em seus lábios,
sábio conselho de alquimia
inútil em palavras.

Não compreendo outra cadência
que não seja a de amar e respeitar,
ainda que em realidade chore,
e a lua recolhe lágrimas
de espuma ausentes,
das suas mãos.

Livre de pronunciar umas palavras
bebendo do copo dos seus batidos,
irresponsável nos seus atos,
implícita de toda a razão conhecida,
assume a tempestade que a cobiça,
um monólogo dela mesma
uma e outra vez,
viajante de ida e volta
capaz de assumir
o que não é seu,
nessa tessitura caminha
às custas com as suas próprias respostas,
sem lhe importar o cheiro
que emana
da sua língua comprida,
 respondendo
a tudo o que não se lhe pergunta.

Ainda que chore noite após noite
as suas próprias luas
não recolherão essas lágrimas opostas,
que derramam
dos seus olhos confusos,
não conheço outra cadência,
que amar
com os olhos bem abertos, e o coração
ao descoberto.

Sempre há viajantes de ida e volta.

Beijos
J.

Entre folhas ... Amarrar ...


Tenho voltado a sonhar
com o incompreendido,
acordo e refugio-me no teu colo,
sonho povoado pelos teus olhos
brilhantes,
vou vivendo a potes de dor,
sentindo que sem ti
sou menos sonhador,
distorço as distâncias das horas,
refugiando-me numa vida
que é uma estanca,
fazem-se-me os sonhos
de uma realidade próxima
e espanto-me com a dor sem a malícia
do que não pensa no outro,
pudesse ser que o meu ego quisesse.

Amarrar alma com alma,
palma com palma,
poro com poro,
unir o meu sentir aos teus sentimentos
para ir  vivendo entre folhas,
que o tempo não desfaz.

Beijos
J.

Entre folhas ... Lábios com carmim ...



 Deixa no nosso leito
os teus beijos,
as palavras  pronunciadas,
recolhe a tua roupa,
as tuas vivências
os teus amores e foge,
para  um lugar afastado
do meu esquecimento,
onde possa recordar-te
de tanto em tanto,
para saber que exististe para além
do imaginado,
perto das nossas noites.

Deixa-me o sabor
dos teus lábios carmim esmaltado
ao lado das fotografias,
os restos do café
da cada amanhã,
os teus aromas,
as pontas dos cigarros,
deixa-me os teus sonhos
intactos,
os meus acompanhar-te-ão,
amor, amor,
por onde quer que vás,
 recorda-me,
sempre sublime
serás uma lembrança
do meu esquecimento
onde possa
recordar o meu desejo,
quando queira
e sem compromissos.

Foge,
ao mesmo tempo que passa a vida
sem contradições;
apreciáveis.

Beijos
J.