Entre folhas ... Querida amada ...

Querida amada,
Vais e vens,
Apareces e desapareces,
Enchendo-me de vazio,
Na ausência e na presença.
É curioso,
Mas quando não estás
É quando mais perto te tenho,
E quando te vejo,
Mais longínqua ficas.
Andei tão pouco
Que reencontrar-te pode doer,
Como a água gelada
No dia mais quente,
Do mês mais caloroso.
Mas mais dura é a ausência,
Quando noto que falta,
A nossa especiaria
Que sem ela o prato
Não é digno de ser servido.
Sem isso,
Sinto-me incompleto,
Como se me arrancasses
Esse instinto que me falta para ser eu,
A peça do puzzle que o completa,
O tijolo que aguenta os alicerces,
Para que não caiam.
Inundas a minha mente
De imagens que vivo como reais,
Que sinto como minhas,
Tão dentro que quase posso
Tocar-te,
Que quase posso sentir-te
A meu lado,
Ainda sabendo que isso jamais será possível.
Daria o que fosse para abraçar-te,
Para ter-te entre os meus braços,
O corpo que nunca será meu,
Daria o que fosse para ouvir-te,
Para sentir no meu ouvido
O gemido que nunca atravessará
A minha mente,
Daria o que fosse para te beijar,
Para conhecer o sabor
Da carne que nunca devorarei,
Daria o que fosse para te cheirar,
Para intuir o aroma da tua paixão
Aberta como uma flor,
A essência que jamais
Chegar-me-á.
Tive-te tantas vezes
Na minha cabeça
Que poderia recordar
Cada desejo,
Cada milímetro do teu corpo,
Sem jamais o ter visto.
Tantas vezes amei-te,
Que não poderia viver
Sem ouvir os gemidos
Que nunca ouvi.
Tantas vezes sonhei-te,
Que acordar e procurar-te
Entre os lençóis
É só o intermédio
Entre o sonho e o real.
Não te surpreendas,
Quando pergunto-te sobre mim,
Porque não me creio merecedor de te ter.
Não penses que o faço,
Para agradar esta e aquela,
Mas para me assegurar que tudo isto,
Não é um sonho,
Que tudo é real.
Sou um ser,
Que sinto a tua presença,
Respondo acalorado,
Entre cada carinho,
A cada suspiro,
A cada cor.
Tenho medo,
Medo de tocar-te,
De arranhar a tua pele
Com o rasto do meu desejo,
Medo de morder-te,
De que a minha saliva
Não possa te limpar,
Medo de que me rodeies
Com as tuas pernas pela cintura
E diluir-me no teu interior,
E não poder sair jamais
Desse cárcere do teu corpo.
Prefiro mil vezes
Continuar a desejar-te a ter-te,
Porque não quero enunciar-te.
Elejo não ter o teu corpo quente
Junto ao meu,
Continuar a ver o teu sorriso,
Verde e cristalino.
Elejo a tortura de ter-te
A um palmo de mim
E não poder alcançar-te,
Porque assim o meu sangue
Continuará ardendo
Sem se apagar,
Jamais.
Quiçá o tempo
Amaine a tempestade,
Quiçá tudo se tempere e suavize,
Não o sei,
Nem quero o saber.
Só quero viver-te,
Dia a dia,
Pensando que a cada dia
Pode ser o último,
Apesar de tudo,
Jamais acabará.
Pode ser que não estejamos,
Que não nos tenhamos,
Que não misturemos as nossas almas,
Rodando entre os lençóis,
Que não esteja dentro de ti,
Nem que devore a tua flor
Até a derreter nos meus lábios.
Pode ser que jamais
Finques os teus olhos nos meus
Enquanto te penetro,
Profunda e lentamente,
Tão dentro como quisesse
Trespassar a tua carne,
A tua alma.
Seguramente
Jamais molharás a minha pele
Com a doçura do teu orgasmo,
Nem grites no meu ouvido,
Que queres mais,
Que pare jamais,
Que continue,
Acariciando cada poro,
Que não deixe de entrar
E sair da tua flor.
É muito provável
Que não me derrame dentro de ti,
E que jamais conheça o tacto
Dos teus lábios
Rodeando o meu membro,
Sugando-o,
Devorando-o,
Arrancando gota a gota,
A minha alma.
Mas o que sempre terei,
Será a tua lembrança,
O brilho do teu sorriso
E o calor da tua alma,
Porque o que vive no coração
Jamais morre.

Beijos
J.