Entre folhas ... Acoplar ...

Uma extensão do teu corpo
De frente ao meu corpo,
Na humidade do silêncio.

Do acoplar das almas
Às palavras escondidas
Desejos,
Gotas de orvalho.

Formigueiros no corpo
Quando encontro-me contigo
O desejo de te reter.

As tuas mãos no meu quadril
E as tuas entranhas ardentes
Quando as minhas mãos te sentem.

Cruel a espera,
Agonia de pensar-te,
E não te ter
E de escrever a poesia
Quando encontras-te ausente.


Beijos
J.

Entre folhas ... Testemunha ...

Tenho de pedir perdão
De vez em quando,
O meu lápis
Escreve sem muita sensatez…

Os humanos pecam
De sentir ardentemente
A tinta entre os nossos dentes,

As palavras fluem sem recato
Fazendo passar maus momentos.

O vento assobia esperanças
O meu dedo oprime-o ardente
Quando encontro-te ausente,
E o meu lápis abertamente
Empena-se em recordar-te
Saciando as tuas lembranças.

Sou testemunha que no meu peito
Mora a tua recordação,
Sincero,
Mas parece mais uma queixa
Que um lamento.

Eu sou sincero comigo
Não me esqueço do esquecimento
Levo-te sempre comigo,
Quando te digo: esqueço-te
Estou a dizer: quero-te.

Tão sincero sou contigo
Como o fui comigo.


Beijos

J.

Entre folhas ... Como destino ...

E a luz iluminou-me,
Acariciando-me os sentidos
Transportando os meus desejos,
Para além do infinito,
Fazendo-me participar
De todos os teus batidos,
Dando,
Recebendo
E tornamo-nos
Como amantes…

Amas-me sem pedir,
Dás sem receber,
É tua luz a que me outorga
As tuas carícias sem sentido,
Os teus beijos compartilhados,
E as tuas palavras comovidas.

Dando, sentindo e tomando,
Como amantes…
A luz como destino.

Suspirando como se hoje
Fosse o último dia dos nossos encontros,
O momento,
O instante,
Percorrendo a infinidade de paixões,
Escondidas no tempo,
Aproximando-me de ti,
Com delícia,
Com esmero,
Sentindo
O que almejo sentir,
São os teus momentos…

Compreendidos entre a noite e o dia,
Sussurrando ao ouvido,
Poemas de amor,
Embargando os meus vestígios e…
A luz do teu interior como destino,
O meu destino…


Beijos
J.

Entre folhas ... A noite tocou-me as costas ...

A noite a seu passo
Tocou-me as costas,
A sua sombra alongada
Roçou as minhas entranhas,
Os meus dedos furtivos,
Procuraram a tua saia,
Quando tu não estavas.

Entre as lembranças,
Inventei um amanhecer
Desenhei-te no céu
Junto à minha janela,
Iluminei a tua estadia,
Simulei que estavas
Pecados ansiosos
Procuravam a tua calma.

Ao fechar os olhos
Desenhei o teu rosto
Os meus lábios ansiosos
Procuravam a tua alma
Na maré calma,
Deixei as lembranças
Do fugaz instante
Que me presenteastes.

A noite a seu passo
Tocou-me as costas
Quando tu não estás
Eu sigo-te amando,
Sigo desenhando-te…

Já vês...

Beijos
J.

Entre folhas ... Sem respiro, a sensação ...

Agrada-me o cheiro
Do esquecimento,
Da tua pele
A sensação amarga
De não ser teu…

A consideração prévia
Do que nunca foi nosso,

A debilidade humana
Da lembrança desprezada,
A sensação que fica
Após ter querido...

Nada é comparável,
À sensação de saber

Que se pode amar de novo.

Sem respiro,
Apenas a sensação…


Beijos

J.

Entre folhas ... Desejos de morte ...

Vítimas de maus tratos.

Digo-vos: Ganhem força e denunciem.


Caminha de casa com os olhos
Vazios,
Calca caminhos de terra
Que marcam desejos de vida
Charruas na frente,
Em forma de morte…

Fala do percurso longo,
Não sabe o caminho,
Apenas anda,
Como se fosse um desconhecido
E não vê a seu passo,
Tudo o que a vida lhe mostra…

Só vê,
Nos anos mal vividos,
A palavra morte
Entranha-se no olhar,
E nesses desejos
Que nunca procurou,
Apareceram,
Semeando vidros…

Uns olhos que se fecham
Deixando batidos,
Por viver,
E vontades de morrer,
Intensas.

Caminha devagar,
E é triste,
Demasiado triste.

Alguém,
Não a deixa retornar
A ter desejos de vida,
A não encontrar o caminho.


Beijos
J.

Entre folhas ... Nu ...

Nu pela rua do desejo
No fio da meia-noite,

Os meus dedos
Procuram esse instante
Brincam com o meu corpo,

Gato faminto
Na procura do nada

Porque tudo,
Volta ao mesmo instante
Como dantes...

Ternura,
Esvazia a boca
Entre os lençóis de algodão
Manchados,

De desejos
indecentes...

Penso...

E volto ao cheiro dos meus dedos
E sentir o meu corpo,
Chama-me…
O fogo,
Do desejo.


Beijos
J.

Entre folhas ... Vem ...

Vem
Ainda tenho uns instantes,
Para olhar a curva da lua,
Juntos.

Vem
Enreda-te nas minhas pernas,
Pinta o meu peito de malva,
Não digas nada
E ama-me...

Vem
Faz-me crer que o amor
Existe,
Mente-me se queres,
E desenha um poema
De amores irreais...

Vem
Eu tenho as lágrimas precisas,
Batem lentamente,
No meu interior,
Deixa-me levar-te
Suplicante até à tua boca...

Não digas nada,
Diz,
Pede-me um poema…

Deixa-me,
Enganar-te novamente
Dizendo que te quero,
E tu,
Mentes-me de novo…

Beijos
J.

Entre folhas ... Ácido liquido branco...

Amanhece,
Um cinzento pálido no ar,
Os meus olhos entreabertos
Procuram o tom adequado,
Para olhar-te,
Devagar…

Para olhar-te devagar
Percorrendo as tuas pupilas,
Desde o ângulo ácido
Que fixou-se no teu olhar,
Quando estavas a sonhar…

Ácido liquido branco,
Sabor amargo
Enfeitando o sonho,
Acordo sonhando,
Os meus olhos no alvo…

Alvo de papel amargo,
Onde me deixo,
Um instante...


Beijos
J.

Entre folhas ... Espaços ...

Chegará o dia em que o ar
Da tua respiração,
Unir-se-á
Entre os meus lábios,
Seremos o mesmo ar
Em diferentes espaços…

Enquanto eu,
Continuarei esperando…



Beijos
J.

Entre folhas ... Ao meu anjo ...

Ao meu querido anjo que suporta paciente as minhas noites de insónia, a minha neura, os meus sonhos, as minhas infidelidades e os meus escritos.

Faz algum tempo
Que o teu corpo...

O teu corpo
Estabeleceu a distância
Para o desejo
Do meu corpo.

O meu corpo
Separou a incógnita
Precisa do teu silêncio.

Caminhou um dia,
Chegou a noite,
Como círculos concêntricos,
Os corpos se uniram
No ponto exacto
Dos sentimentos.

Abstractos...

E perduram
Após tantos anos,

No ponto exacto
Onde fundem-se
Amores,
Sentimentos
E poesias.


Beijos
J.

Entre folhas ... Respirando paixões ...

Ressaca do esquecimento
Com os beijos que nós demos
Recordando uma despedida
Que nunca existiu…

Escrevendo com lágrimas de prata,
Unindo laços,
Continentes e marés,
Apareceste-me em forma de ar
Dizendo-me adeus…

Não poderia ser?

Que este,
Do outro lado…

Fora só tu e eu?

Ressaca do esquecimento
Viverei,
Estando ao teu lado
Respirando esta paixão.

Ressaca do esquecimento
Sempre encontro-me contigo,
Pareces tu e eu,
Parecendo ser
Sempre tu.

Beijos
J.

Entre folhas ... Equação ...

Escura ideia,
Equação por resolver
Incógnita no ar
Trapézio de matéria,
Inerte...


Quando penso em ti
Leio-te, e pouso
Sobre a íris dos teus olhos,
Acaricio a manhã...


As tuas mãos têm encontrado
A fórmula exacta
Para fugir de mim,
Da mesma forma,
Que chegas-te...

Uma incógnita agridoce
Fugir do tempo
Que nunca foi compartilhado.

Beijos
J.

Entre folhas ... Recordando as tuas lembranças ...

Os braços estendidos
Querendo apanhar os sonhos
As mãos abertas
Querendo tocar o teu corpo.

Os sentimentos expandidos
Transitando
Pelo éden da lembrança.

Não há tempo
Que decorra
Sem recordar-te de novo.

Nem sonhos que não se sonhem
Recordando os sentimentos…

Beijos
J.

Entre folhas ... Dor de ti ...

Sinto perder parte da minha vida,
Lentamente,
Contemplando as tuas feridas,
Fugazmente,
Desde aqui,
Onde o espaço
Se perde…

Desde ali,
Lentamente chegam-me
Gemidos,
Não sinto a dor que emano…

Sinto,
A dor que produz a ausência,
Lamento
Tudo o que não pude te oferecer
E gosto de me rir,
Em acto paranóico,
Da dor do desejo,
Esse que não mata.


Beijos
J.

Entre folhas ... A tua voz ...

A tua voz:

Penetra-me para além da razão,
Até à carne de mim
Estremece-me,
Derrete-me,
Enerva-me,
Enfurece-me.

Provoca-me,
Lastima-me,
Engrandece-me,
Come-me, come-me.


Desliza-se-me pela boca.

Liquidifica e desce pelo meu pescoço...

Saboreia-me,
Endurece-me,
Palpita-me.


Desespera-me,
Substitui-me,
Acorda-me.


Apressa-me,
Abranda-me,
Come-me.
Come-me.


Ziguezagueia pelo meu ventre,
Faz-me côncava,
Abre-me,
Arde-me.


Encontra-me,
Sustenta-me,
Lambe-me.


Completa-me,
Encharca-me.

Culmina-me.

Beijos
J.

Entre folhas ... Companheira ...

Por companheira quisesse,
Uma lua nova
Ou uma lua cheia,
E que ela soubesse
Que eu sou a sua estrela,
Nas noites frias
Abrigava
As suas cálidas mãos,
Seriam o meu refúgio.

Flor em primavera,
A que eu regara,
O seu perfume,
Seria a minha morada,
Conservava,
No meu silêncio eterno,
Ou escravizava-me
Com palavras vãs.

Oásis sem água,
Chuva que cai,
Água que nasce nas primaveras,
Orvalhos internos,
Deles eu beberia.

Por companheira quisesse
Uma musa
Que inspirasse os meus escritos,
Ou um anjo sem asas
Que fosse a sua sombra,
A que eu olhasse
Sem lhe dizer nada,
A que dissesse
Quero-te
Sem ter lido os escritos,
E entendesse que o amor
É respeito mútuo,
Afecto, compreensão
Dose de ilusão
E uma dor eterna
No coração.

Por companheira quisesse
Uma lua nova
Ou uma lua cheia
E que ela soubesse
Que eu sou a sua estrela.


Beijos
J.

Entre folhas ... O cheiro do seu vestir ...

Levava no seu vestir um aroma
Semelhante a amores derretidos,
A noites de suores quentes
Entre lençóis frios,
As palavras encurtadas
Pela madrugada,
A cópulas fantásticas,
Também do seu corpo emanava
Esse cheiro…

Acariciava-me a alma
Para sentir coisas estranhas,
Em algum momento sonhava,
Nas suas palavras
Esse cheiro
Penetrava-me nas entranhas
Enquanto dizia-me: quero-te.


Agarradas as suas mãos,
Às minhas costas
Sussurrava com rouquidão,
Que eu era o amor,
Das suas manhãs,
O ar que respirava…

Um cheiro,
Que se impregnava na minha pele
E agarrava-se à minha alma,
E não era meu,
Não fui eu…
Quem lhe tinha acariciado a alma…

Beijos
J.

Entre folhas ... Essência e garras ...

Há uma essência minha
Dentro do teu corpo,
Espreitando o momento
Oportuno e discreto,
De abalar os teus sentimentos
Adormecidos.

Há uma essência
Que me corrói a alma,
Fragmentos brancos
De asas e garras,
Depois do teu voo
Despistado.

Há um terno nevoeiro
Adiante dos teus olhos
Que não te deixam ver
Esta minha essência…

Que espreita-te em silêncio
Por baixo do teu ventre
E o meu ventre resiste
À tua essência...

... E às tuas asas e garras.


Beijos
J.