Entre folhas ... interprétético ...

A golpe de marreta 
não me sabem a nada os vocábulos 
esculpidos pela sua boca maldita 
a orla pesada do seu mar, 
nunca tem sido a desembocadura 
retorcida das suas águas sujas, 
nas minhas praias silenciosas. 

Partiu a meio o jogo das palavras 
decomposto o vocabulário 
utilizando duas mil artimanhas
dois mil, os mesmos beijos 
que me propôs, antes de me conhecer, 
e despir-me com as suas palavras. 

Tem violado as minhas verdades, 
com as suas melhores mentiras 
a golpe de marreta,
à contraluz,
à contracorrente, sustentasse. 

E bem sabe... 
que o maior dos templos 
afunda-se, dando no ponto exato 
da equação matemática 
dos seus alicerces. 

Sempre tenho ido ao descoberto, 
ainda quando não conhecia o seu nome 
nem o egoísmo que te embargava

interprétético.

Beijos
J.

Entre folhas ... Insónias ...


Sinto algo como um eco na minha garganta,
Os teus silêncios de infinita alegria aguardam,
nada pode ser como tu,
no tempo, sinto o eco na planície,
ou o eco na montanha.

Nunca tinha conseguido interiorizar-me
num mundo tão rico e tão profundo,
nem posso descrever o que me habita,
se não é desde o eco de tua voz,
é a calidez das tuas palavras na noite,
de tanto simular as possibilidades
o impossível sai derrotado,
burlando o absurdo sonho contigo,
encontro uma realidade próxima
daquela que me habita e que me nomeia,
acende no meu céu labaredas,
e tem-me quando quer.

Na insónia surpreendida que voa
para além das distâncias,
numa trama nítida de lágrimas,
não quero curar-me deste amor por ti,
ainda que te doa a minha dor e não o sintas
guardo os teus instantes,
por dias e meses,
satura-me a ideia analgésica,
de percorrer nestas noites que a dor abunda,
sendo as tuas palavras um bálsamo de amor,
que tudo cura.

Uma insónia que sabe a ti,
à fonte inesgotável do teu amor,
que me dá vida e alimenta.

Ainda que o possa negar….

Beijos
J.

Entre folhas ... Estrelas nas tuas nádegas …



Aturdido por um tempo que não parecesse meu,
abandono-me ao lugar onde o silêncio chora,
em silêncio na tua alcova,
no lugar sagrado
onde os pensamentos voam,
e ao compasso
de um cometa invisível dançam os sonhos,
dançando os meus lábios
ao pensar nos teus beijos.

as madrugadas mornas aqueço-as
com teu alento e saliva fresca de vida,
as noites frias afasto-as
do pensamento
contra as raízes do teu ansiado corpo.

Não existe vertente que no teu ventre
desconheça,
nem me perco nos hemisférios dos teus seios,
o teu corpo é reconhecido nos meus sonhos,
ainda que as estrelas saiam a sentir a noite,
a dançar dois tangos...
entre as tuas nádegas.

ao sentir a noite,
os corpos dançam.

Beijos
J.

Entre folhas ... De sonhos… ...

Estou nas tuas noites,
passeando nos teus sonhos
situo-me no exacto cruzamento
das tuas estrelas,
em metade do firmamento
fala-me a lua,
de solidões
ausências e rupturas.

Estou no deserto
dos teus pensamentos
apresento-me em forma de lua,
nu,
o meu corpo molda-se
lateralmente nas tuas costas.

Há ondas que rompem
contra as rochas,
de forma impetuosa manifestam-se,
abrem-se em rodopios
penetrando a sua espuma,
no profundo.

Os lábios humedecem-se com os beijos.
... e há quem o pressinta em silêncio,
nunca disse quero-te ,
sem o sentir;

Beijos

J.

Entre folhas ... Vou amando sem ti…

Custodia do meu pensamento,
a tua voz à minha agarra-se,
inseparável,
cúmulo dos teus suspiros noturnos
percorrem o paraninfo da distância,
sou o orador certo,
todos os meus amores despertam-se contigo
interiorizando-me nos teus silêncios,
acordando comigo.

Comigo sem ti,
"ao lado"
sentindo
que tens desaparecido
quando na realidade ainda nem chegas-te,
o que quis dizer-te já o disse,
vestido de silêncio,
e não entendes o que sinto,
não falas do vocábulo
infinito
que nos aguarda,
nem lembro o real por tangível,
palpável de amargura,
não me chegam os lábios
de não gabar-te,
todos os meus amores acordam
contigo,
ainda sem te lembrar,
possuir-te e reter-te,
estás
comigo,
aroma de jasmim enrarecido amor de mil
batalhas.

Custodia do pensamento,
as lembranças amorfas,
dando vida a um presente já longínquo,
o amor morre,
quando cada palavra
é silenciada,
floresce o coração que ainda estremece,
dando vida a um presente,
já longínquo,
acordando comigo...

e eu tão longe...
sem ti.

Beijos

J.

Entre folhas ... Borboletas com asperjo ...



Tem a borboleta que me acompanha,
asas de mel,
brilho de geada,
silêncio puro,
seduz o meu equilíbrio e ancora,
no porto onde todas as emoções
da minha vida explodem.

Quando a nomeio em amor
silencia-se
dá-me medo,
dá-me raiva,
de saber que não é minha,
e que ainda me faz sofrer.

Não tem distância,
não a conhece,
fuzila-me com o olhar
sem me doer,
tem esta borboleta olhos de gata,
meia deusa
metade humana,
por onde passa, tudo arrasa.

Sobre a sua pele quisesse inundar-te profunda
do orvalho que do meu corpo desprende
a manhã morna,
orvalho profundo,
metade transparente,
desde dentro,
tudo se sente.

Os teus lábios fazem cavidades,
as pontas dos meus cabelos,
frágil no profundo
quando penetras, na raiz
dos meus sentimentos.

Quando te amo, sinto,
 nada se escapa do sentir terno.

Beijos
J.