Entre folhas ... Para esquecer-me ...

Para que me esqueças sem rancor,
não ódio,
com os restos naturais da indiferença,
tens de encher a tua garganta
com as letras do meu nome,
com todos os tempos do verbo amar,
sem esquecer as notas escritas
nas noites cegas,
provar a humidade da minha pele
com os olhos fechados.

Para que me esqueças,
tens de sentir o sabor,
dos beijos calados,
em silêncio feito versos,
ardentes como fogo
sedentos como o deserto,
tantos que não cabem nas noites
de uma vida ,
como para deixar de me amar sem indiferença,
já nos falta o tempo
para salpicar as vontades
com tanto amor de um dogma
com tanto extrato escondido,
temos que nos dedicar sem rendições
uma batalha de desejos famintos,
libertar os erres enquanto nos beijamos,
libertar os esses enquanto fornicamos,
descodificar a inquietude dos verbos,
apaziguar o tesão.

Para que me esqueças com tanto por fazer,
enquanto vivemos quase um impossível,
melhor dito, enquanto eu viva,
pois as letras do teu nome,
gravadas no meu epitélio
serviram algum dia para meu epitáfio.

Com tanto por fazer será impossível
esquecer-te,
também não me proponho,
posso manter sempre as letras
de um amor a salvo de um naufrágio,
enquanto perdure em mim a sensatez,
da loucura dos meus desejos proibidos.
amar-te.

Beijos

J.